sábado, 28 de março de 2020

Da educação popular à Educação de Jovens e Adultos: uma retrospectiva necessária

Primeiramente, devemos destacar que, o ensino para as massas populares teve início apenas a partir da década de 1920 (SAVIANI, 2004). Desde o Período Colonial, com os Colégios Jesuíticos, só tinham acesso à escolarização as crianças oriundas das famílias ricas e proprietárias de terra, ou seja, a escola era destinada apenas aos filhos da elite.
A partir da década de 1920, a sociedade brasileira passou por um intenso processo de industrialização e urbanização. Nesse contexto, educadores liberais idealizaram uma Educação Popular, pública e gratuita, com o intuito apenas de ampliar o ensino escolar para todos, atendendo desta forma a crescente demanda por vagas nas escolas, nas quais as crianças, assim como os jovens e adultos iletrados, pudessem ter acesso a uma educação comum, ou seja, uma instrução popular.
Foi somente na década de 1930 que a oferta da educação para jovens, adultos e idosos passou a fazer parte do debate político nacional.
Devemos destacar que esta educação, considerada popular (para o povo), foi incorporada como direito de todos os cidadãos por meio da promulgação da Constituição Federal de 1934. A escola primária, até então destinada à elite, passou por um processo de democratização, melhor dizendo massificação, para poder atender a nova clientela.
Foi partir da década de 1940 que a Educação Popular apareceu, de maneira mais incisiva, na história da educação brasileira. Este momento histórico compreende o que denominamos Estado Novo ou Era Vargas. Este período perdurou de 1931 a 1946.
No período em questão, o Brasil passava por intensas transformações. A crescente urbanização, o surto industrial e a necessidade de mão de obra qualificada intensificaram a necessidade de ampliar o acesso à educação para todos. O desenvolvimento econômico experimentado pelo país forçou o apogeu de uma educação voltada para a rápida profissionalização. Ressalta-se a criação do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), em 1942 e o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC), em 1946.
Na década de 1950, passou-se a discutir a função da Educação de Jovens e Adultos, pois alguns educadores acreditavam que a educação voltada à classe trabalhadora, além de transmitir conteúdos, deveria propiciar a formação dês sujeitos críticos.
Já década de 1960, entidades da Sociedade Civil Organizada, como a Igreja Católica, o Partido Comunista, os Movimentos Sociais e a União Nacional dos Estudantes (UNE), foram importantes instrumentos de promoção da cultura e da Educação Popular no Brasil.
Surgiram importantes movimentos de Educação Popular no Brasil, tais como: o Movimento de Cultura Popular (MCP), em Recife; o Movimento de Educação de Base (MEB), criado pela Conferência Nacional de Bispos do Brasil (CNBB), com o apoio do Governo Federal; o Centro Popular de Cultura (CPC), criado pela UNE em 1961, além das Campanhas de Alfabetização como a “Campanha de pé no chão também se aprende a ler” e a “As 40 Horas de Angicos”, cujo objetivo era alfabetização de crianças e adultos das classes populares.
Ressalta-se, então, que o início da década de 1960 foi marcado por muitas experiências de Educação Popular de caráter transformador que aconteciam fora dos espaços escolares. Essas experiências passaram a ter um caráter de organização política tendo como foco a transformação social. Com o Golpe Civil-Militar, em 1964, e a instalação do Regime Militar no Brasil (1964-1985), os movimentos Educação Popular foram vistos como uma ameaça ao novo regime e, por este motivo, foram extintos. 
Por conseguinte, o final da década de 1970 e o início da década de 1980 se configuraram como um período de muita construção e resistência política em todo território nacional. O país ansiava por um processo de redemocratização, de reestruturação social e o fim do Regime Militar.
Naquela época, surgiram iniciativas como o Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos (MOVA), no município de São Paulo. O MOVA foi um movimento Educação Popular para a alfabetização de jovens, adultos e idosos no município de São Paulo.  O programa foi uma proposta do Secretário Municipal de Educação de São Paulo, Paulo Freire, que estabeleceu uma parceria entre o Poder Público do município e os movimentos sociais.
Percebe-se que, até a década de 1980, evidenciou-se às iniciativas de Educação Popular voltadas à educação de pessoas jovens, adultas e idosas. Porém, destaca-se ao final desta década uma nova iniciativa de Educação Popular, voltada aos cursinhos populares pré-vestibulares.
Destaca-se que, o final da década de 1980 foi marcado por inflação e por uma forte crise econômica que provocaram o enfraquecimento dos Movimentos Populares e aumentou das tensões sociais.
No campo da educação, a Constituição Federal de 1988 estendeu o direito de acesso a todos que não tiveram acesso na idade própria. A Constituição Federal de 1988, ao estender o direito à educação básica aos cidadãos de todas as faixas etárias, gerou a necessidade de ampliar as oportunidades educacionais para os que ultrapassaram a idade da escolarização regular.
O Artigo 205 da Constituição Federal de 1988 estabeleceu a educação como um “direito de todos e dever do Estado e da família, promovida e incentivada, com a colaboração da sociedade, visando o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” (BRASIL, 1988).
Visando contornar a crise econômica instaurada, a década de 1990 foi marcada pela difusão da ideologia neoliberal, que promoveu inúmeros impactos, como a valorização da lógica de mercado. Assim, a década de 1990, deixou à sociedade civil a missão de resolver problemas relacionados a outras modalidades da educação, como a EJA.
A LDB nº 9.394/1996 considerou a escolarização daqueles que passaram da idade regular convencional e estabeleceu a Modalidade Educação de Jovens e Adultos (EJA) como uma Modalidade da Educação Básica, nas etapas do Ensino Fundamental e Médio. Em seu Título V (Dos Níveis e Modalidades de Educação e Ensino), do capítulo II (Da Educação Básica), a LDB nº 9.394/1996, abriga a seção denominada “Da Educação de Jovens e Adultos”. Esta seção é composta por dois artigos (art. 37 e art. 38), que tratam do direito à educação de qualidade e adequada às necessidades e condições dos educandos desta Modalidade de Ensino.
O Artigo 37 da LDB nº 9.394/1996, estabeleceu que a Modalidade EJA é destinada àqueles que não tiveram acesso ou não concluíram o Ensino Fundamental e Médio na idade própria e deveria estar integrada, preferencialmente, à Educação Profissional. O artigo estabeleceu como dever do Poder Público a gratuidade do ensino, a oferta de oportunidades educacionais apropriadas, a consideração das características dos educandos e a visibilidade e estímulo para o acesso e a permanência do educando da Educação de Jovens e Adultos na escola, mediante ações integradas e complementares.
Acerca dos exames supletivos, o Artigo 38 da LDB nº 9.394/1996 alterou a idade mínima para a realização dos exames. A Lei Federal nº 5.692/1971 regulamentava 18 anos como idade mínima para os exames do 1º Grau e 21 anos para os exames do 2º Grau. A LDB nº 9.394/1996 estabeleceu a idade mínima de 15 anos para os exames do Ensino Fundamental e 18 anos para os exames do Ensino Médio. Estes exames compreendem a base nacional comum do currículo e habilita as pessoas para a continuidade dos estudos. O Artigo 38 da LDB nº 9.394/1996 estabeleceu que “os conhecimentos e as habilidades dos alunos adquiridas por meio informais eram certificadas mediante a realização dos exames supletivos” (BRASIL, 1996b). A diminuição da idade para a realização dos exames supletivos ocasionou a entrada de jovens nas salas de EJA, que antes eram compostas, em sua maioria, por adultos e idosos. De maneira geral, estes jovens foram vítimas do fracasso escolar e estão em busca de uma certificação rápida.

Referências


BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988.
BRASIL. Lei nº 9.394. Brasília, DF: Congresso Nacional, 23 de dezembro de 1996. Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
SAVIANI, Dermeval. O legado educacional do “longo século XX” brasileiro. In: SAVIANI, Dermeval et al. O legado educacional do Século XX. Campinas,SP: Autores Associados, 2004. (Coleção Educação Contemporânea) (p.9-58).


Disciplina: Educação Popular


        Fotos da aula de 13/03/2020
Disciplina: Educação Popular
Docente: Arlene Malta com participação de Aila de Jesus

       
       


                                                         



👉Mitos ou verdades?
“Bandido bom é bandido morto?”
“Em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher.”
“Pau que nasce torto, morre torto.”
“Filho de peixe, peixinho é.”
“O costume do cachimbo deixa a boca torta.”
De onde vem os saberes tidos como verdades?

O que é Educação Popular?

     
Uma proposta de educação construída por pessoas simples e humildes, na maioria das vezes pobres trabalhadores excluídos do Sistema de Ensino Regular.
Essa proposta de educação acontece em diversos locais, tais como: nas igrejas, nos sindicatos, nas ruas, nos assentamentos rurais, nas escolas populares, nas fábricas, à sombra das mangueiras e nas universidades. É uma proposta construída coletivamente, por meio de lutas e embates, debates e diálogos que envolve todos os que se encontram nas situações supracitadas. É a expressão de um povo que quer ter voz, vez e lugar.
Assim, a Educação Popular é democrática, dialógica, participativa e política. Tem como proposta a problematização; não a solução pronta aos problemas apresentados; considera que educadores/as e educandos/as possuem saberes, mesmo que de diferentes formas; valoriza o fazer junto, o saber coletivo. É a educação do povo, com o povo e para o povo.